Para se falar de varejo, temos que primeiro pensar no consumidor como figura central. Um consumidor que saiu do isolamento social, ávido por retomar sua rotina de relacionamentos e interações sociais se vê em um cenário de aumento do custo de vida, devido ao recrudescimento da inflação gerada principalmente pela quebra das cadeias produtivas internacionais, associada a uma crise energética, um tumultuado cenário geopolítico e grandes preocupações com a crise climática.
A pesquisa “o consumidor do amanhã” feita pela Mosaiclab, empresa expert em market intelligence, destacou como maiores preocupações dos consumidores, neste período pós-pandemia, em ordem: pobreza e desigualdade social; corrupção; insegurança (assaltos e violência); fome; crescimento de doenças emocionais; crises financeiras; novas ondas de Covid.
Este novo consumidor, sem dúvida, é mais exigente com relação aos valores, e irá avaliar os varejistas e suas marcas, perante seu posicionamento diante das causas sociais.
Diante disso tentamos enumerar as potenciais tendências para o varejo físico e para o on-line, que hoje têm de ser vistas de forma sistêmica.
As tendências seriam:
A primeira é a busca pela hiperconveniência e o conforto. O consumidor procura em seu cotidiano soluções rápidas e preferencialmente grátis. Tal fato deve gerar a aceleração do crescimento das lojas de conveniência, das “vending machines” e dos negócios com estrutura pegue e leve e serviços disponíveis 24 horas.
A segunda vem de um consumidor que amadureceu durante o isolamento social provocado pela pandemia e se tornou hiperconectado, acelerando uma variável hiperssensorial a seu comportamento.
A terceira consiste na aceleração da discussão acerca do metaverso. Os consumidores, principalmente a geração Z, que está cada vez mais ocupando fatias no mercado, não se contentam em somente receber conteúdo, mas o produzem e desejam imergir nele (metaverso – que está em construção).
A quarta é uma aceleração da mudança dos shopping centers que tendem a se transformar em espaços mais fluidos com a incorporação de vários serviços, onde o consumidor poderá resolver diversos problemas diários. Gradualmente estão sendo agregados também projetos multiuso, como prédios residenciais; prédios corporativos; hotéis; clínicas e hospitais; áreas para diversão para crianças; espaços com restaurantes mais sofisticados e restaurantes temáticos. Associado a tudo isso está surgindo de forma crescente a figura dos anunciantes dentro do espaço dos centros comerciais.
Uma quinta será uma ampliação dos serviços de assinatura (onde o consumidor recebe um produto ou serviço por um prazo determinado), dos programas de fidelidade e dos programas de chargeback.
A sexta é a busca da personalização pelo consumidor. Os nativos digitais estão alcançando sua maturidade financeira, e têm novas exigências do mercado. Eles demandam experiências e/ou produtos únicos. Tanto produtos como serviços devem ter uma correlação com as personalidades dos clientes. O cliente demanda o momento “uau”, que o impressiona. Para engajar melhor o consumidor, as empresas precisão transferir para a prática do atendimento o que conhecem do consumidor, através dos dados.
A sétima é a preocupação com o meio ambiente e com o social – sustentabilidade. As empresas estão crescentemente preocupadas com o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente. O consumidor, mais do que a qualidade dos produtos, avaliará as empresas e as marcas diante de seu posicionamento em termos ambientais e sociais.
A oitava tendência pode ser descrita como uma preocupação com a sustentabilidade humana. Uma forte preocupação das empresas com a saúde mental. Muitos dos clientes e colaboradores que saíram do isolamento social sofrem hoje de doenças emocionais e o varejo, sem dúvida, é impactado na realização de seus negócios por esta variável.
A nona tendência é a aceitação genuína da inclusão. As pessoas não têm mais tolerância com a falta de respeito. O varejo tende a se preocupar em ser inclusivo e demonstrar esta inclusão, tanto no contexto racial, quando no contexto das causas LGBTQI+, quanto no contexto da representação da mulher em cargos de direção das empresas. A diversidade e sua representação no mercado de trabalho se tornaram mais relevantes do que nunca. As pessoas querem ser vistas e reconhecidas a partir de suas particularidades. As marcas têm de estar mais próximas e se comportar de acordo com os valores que transmitem através delas.
A décima será o aprofundamento da ominicanalidade. O consumidor já se acostumou a começar a compra por um canal e terminar a compra por outro canal e não quer abdicar disso. Neste contexto os chats on-line tendem a crescer para facilitar esta integração do on-line com o off-line, reforçando a estratégia ominichannel. Os chatboots tendem a crescer e os call centers a ficarem menores e mais especializados para resolver questões mais complexas dos consumidores. No mesmo sentido, deve haver um aumento da possibilidade de retirar o produto na loja, inclusive com a incorporação de equipamentos e tecnologias que facilitem o “pick up in store”.
A décima primeira deverá ser o fortalecimento dos marketplaces. Uma pesquisa realizada sobre o varejo on-line afirmou que mais de 60% dos consumidores tendem a pesquisar neles para efetuar compras. A demanda do consumidor deve encaminhar os varejistas em direção às grandes plataformas de e-commerce, onde terão oportunidade de capilarizar seu negócio e aumentar seu faturamento.
A décima segunda é o crescimento das vendas através das redes sociais, o social commerce, principalmente por meio do WhatsApp, Instagram e Facebook. O atendimento também nas redes sociais deverá sofrer uma personalização. As pessoas querem cada vez mais ser tratadas como únicas. Para tal, as empresas têm que conhecer cada vez melhor seus clientes.
A décima terceira é o aumento do uso da tecnologia durante o processo de compra, com ampliação dos meios de pagamento digital, com aumento do uso do QR code, das carteiras digitais e da inclusão de NFT(s) no processo da jornada de compra do consumidor.
A décima quarta é o provável aumento das vendas para as regiões mais próximas. Principalmente no e-commerce. Regiões muito próximas tendem a ter frete zero.
A décima quinta é a adoção de soluções de logística mais eficazes e eficientes. Os varejistas realizaram investimentos em galpões e melhoraram seu processo de entrega. Os marketplaces têm exigido dos lojistas uma entrega cada vez mais rápida, para estes se localizarem nas melhores posições nas plataformas. Muito provavelmente os consumidores logo terão fretes mais em conta e entregas mais velozes.
A décima sexta é o aumento do uso do celular para compras. Ele já é citado, em muitas pesquisas, como o principal canal de compra e tende a crescer em detrimento dos desktops e tablets. O consumidor cada vez mais deseja comprar onde quiser e quando quiser.
A décima sétima é o surgimento e/ou ampliação da quantidade de marcas próprias dos varejistas. Com a alta da inflação muitos consumidores procuram hoje produtos mais baratos.
A décima oitava é o Recommerce (a venda de produtos usados) e o aumento da logística reversa de produtos eletrônicos, incentivados pela Geração Z.
A décima nona é a ampliação das estratégias do marketing holístico. O marketing dos varejistas para melhor posicionar as marcas, deve transmitir a preocupação com pautas sociais e como se tratam os colaboradores da empresa.
A vigésima é a preocupação com o consumo de alimentos saudáveis e/ou orgânicos. Por isso os supermercados procuram cadeias de produtores locais e se preocupam cada vez mais com a qualidade dos produtos oferecidos.
A vigésima primeira é o aumento das lojas tipo pop up store, lojas físicas temporárias, montadas em um curto período, na maior parte das vezes para conectar o consumidor a plataformas on-line, proporcionando novas experiências ao consumidor.
A vigésima segunda é o aumento do comércio “cross border”, com crescimento acentuado dos produtos vindos da Ásia.
A vigésima terceira é o aumento do uso da realidade virtual (VR) e da inteligência artificial no atendimento on-line dos consumidores e nas lojas físicas, através de provadores inteligentes.
A vigésima quarta é o aumento das dark kitchens (as cozinhas que produzem para diversas marcas e são feitas para operar exclusivamente com delivery) e das dark stores (que unifica o varejo físico com o digital) que servem para separar, embalar e enviar os produtos para o consumidor final e não possui porta aberta para o público.
A vigésima quinta e a abertura de novas lojas físicas. Muitos varejistas que começaram no digital estão abrindo lojas físicas com o objetivo de conhecer melhor seu consumidor e sua relação com os produtos e marcas.
A vigésima sexta é o aumento das lojas autônomas, principalmente de conveniência e de minimercados, onde o consumidor pega o produto, paga, embala e o leva para casa.
Vivenciamos um momento de profundas mudanças, com cada vez maior número de tecnologias, novas oportunidades de negócios e novos formatos de negócios. O varejo que sempre inovou, agora tem que se adaptar a uma aceleração do processo de transformação que está criando um novo ambiente para as empresas e suas relações com os consumidores.
Fonte: https://diariodocomercio.com.br/economia/o-que-esperar-do-varejo-em-2023/
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